Infelizmente, o também mutante e também ninja mas velho e rato Splinter, figura paterna que os criou e os iniciou na cultura dos guerreiros sombrios japoneses, prefere mantê-los afastados, com medo de que sejam temidos e “ordenhados” (em suas próprias palavras).
No entanto, como todos bons adolescentes com treinamento de ponta em artes marciais, Rafael, Michelangelo, Donatello e Leonardo se rebelam para salvar a cidade de uma gangue de criaturas que podem ter relação com seu passado.
Com diferentes versões de origens ao longo dos anos, a animação erra ao escolher uma das mais bobas. A ideia de um Splinter que tira suas habilidades de filmes e cultura pop pode simplificar as coisas para o espectador, mas também beira o ofensivo.
Por sorte, o incômodo não dura muito. Em especial graças ao desenvolvimento dos protagonistas, que nunca foram tão adolescentes. O relacionamento dos irmãos mantém o amor sincero, marca da franquia, com boas doses de picuinha fraternal.
De forma esperta, “Caos Mutante” mostra que esse lado dos heróis pode ficar evidente em sua imaturidade, e não apenas em rebeldia ou piadas juvenis.
É raro ver um equilíbrio tão bom entre respeito ao clássico e modernização quanto o do roteiro de Seth Rogen (sim, o ator de “Segurando as pontas”), Evan Goldberg (“Superbad”), Dan Hernandez e Benji Samit (dupla de “Detetive Pikachu”) e do diretor Jeff Rowe (um dos responsáveis por “A família Mitchell e a revolta das máquinas”) – por mais que a trama sofra, em alguns momentos, de uma certa lentidão.
Mesmo assim, a história não passaria do mundano sem o estilo inovador e inventivo da animação – algo que Rowe já tinha usado em sua excelente estreia como diretor.
A iniciativa é possível em grande parte graças ao sucesso tremendo dos dois “Aranhaversos”, mas soaria artificial sem uma visão talentosa no comando.
Criados nos anos 1980 em um gibi muito mais sombrio e sério, os tartarugas se tornaram marcos na cultura pop com sua versão mais doce e ingênua – uma linguagem muito mais ligada a desenhos matinais.
Nas mãos de Rowe, eles finalmente encontram um filme à altura. E gerações mais jovens só têm a agradecer.
Fonte: G1