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Os segredos de ‘Barbie Girl’: dança com Xuxa, críticas por machismo, processo e cover de Kelly Key

Ao g1, Aqua recorda programa ‘maluco’ e aprova versões empoderadas. Hit rendeu disputa judicial com Mattel, foi criticado por machismo e fez banda vender 15 milhões de discos.

“Barbie Girl”, o maior hit inspirado na famosa boneca, fez uma banda dinamarquesa com visual de desenho animado vender mais de 15 milhões de cópias do álbum de estreia. A música ganhou versões empoderadas, rendeu processo da Mattel e recebeu críticas por machismo. Agora, voltou a ser falada (e regravada) por conta do sucesso do filme “Barbie”.

As batidas e letras eram simples. O revezamento de vozes era hipnotizante. Em 1997, “Barbie Girl” foi uma das músicas mais tocadas no Brasil. O fantástico mundo de plástico da letra ganhou até versão em português, cantada por Kelly Key, oito anos depois.

René Dif, ex-DJ de 55 anos, ficou famoso pela careca, pela voz grave e pelo sorrisão. Lene Nystrøm, 49, mudava de cabelo como quem muda de roupa. Virou cantora após ser modelo e assistente de palco em um famoso programa da TV norueguesa, terra natal dela.

“O Aqua tinha muita ironia, a gente tentava botar cores nas palavras. Era bem visual e tudo sempre brincava com isso”, explica Lene ao g1 (ouça entrevista no podcast acima). “É como se a música fosse uma tela e você começasse a pintar com as palavras e os vocais. É uma grande parte do Aqua, trabalhar assim.”

Lene parece sempre estar dois tons abaixo amigo de banda, com quem namorou no início do Aqua. René é muito mais pilhado do que a parceira.

Dançando com Xuxa

O Aqua veio só uma vez ao Brasil, em 2000. Eles se apresentaram em programas de TV como o “Planeta Xuxa”.

“O programa era maluco. Eu me lembro que a moça, a apresentadora, ela era loira e já tinha namorado um piloto de Fórmula 1, talvez”, arrisca René. O chute é certeiro: Xuxa namorou Ayrton Senna por quase dois anos, no fim da década de 80.

“Era um programa gigante, né? Tinha muita gente, todos dançando. Foi uma experiência incrível”, adjetiva ele.

René e Lene são as vozes e as caras do Aqua, mas as músicas são criadas pelos outros dois integrantes. O tecladista Søren Rasted e o guitarrista Claus Norren assinam quase todas as músicas do Aqua, incluindo “Barbie Girl”.

O Aqua era uma banda pop diferente das outras daquela época, porque eles quase não faziam músicas com participações de outros artistas… Eles já tinham na banda a voz melódica de uma cantora e a voz mauzona de um rapper. E eles escreviam e produziam as próprias músicas: porque já tinham uma dupla de produtores na banda.

O tecladista do Aqua teve a ideia de escrever “Barbie Girl” quando foi em uma exposição de arte em uma loja em Copenhague, capital da Dinamarca. O artista responsável pela mostra pegou um monte de Barbies e formou uma bola gigante, como se as bonecas tivessem dado origem a um planeta.

Olhando aquela bizarrice, ele pensou em uma frase, que depois se tornaria parte do refrão da música: “Life in plastic, it’s fantastic”. Na mesma hora, ele também cantarolou “Come on, Barbie, let’s go party”. Estava criada aí a espinha dorsal deste clássico da música dançante dos anos 90.

Eurodance aloprado

O arranjo foi todo criado a partir de um sintetizador chamado Roland JV-2080, que era um dos equipamentos mais modernos na época e tinha sido lançado um ano antes. Se a letra a simples, a sonoridade talvez seja ainda mais simples. “Barbie Girl” é um típico Eurodance, uma música dançante tipicamente europeia surgida no começo dos anos 90.

Os vocais geralmente oscilam entre o falado e cantado ao som de um baixo pulsante, batidas frenéticas e melodias assobiáveis. Outra coisa do eurodance é que ele é meio espalhafatoso, brega, meio estridente mesmo (veja exemplos de hits do estilo acima).

Dá para dizer, com o perdão do trocadilho e do exagero, que o Aqua foi um divisor de águas do eurodance. Depois deles, o estilo perdeu totalmente a noção. O eurodance pós-Aqua ficou totalmente aloprado, com hits como “Blue (Da Ba Dee)”, do grupo italiano Eiffel 65; “Stereo Love”, do romeno Edward Maya e “Dragostea Din Tei”, do grupo O-Zone, diretamente da Moldávia.

A letra de “Barbie Girl” foi muito criticada por ser considerada machista. A mulher está sendo objetificada, tratada como se fosse uma boneca. Há versos como: “Sou uma loura burra”, “Você pode me despir em todos os lugares” e “Vista-me, aperte-me, sou sua boneca”.

A resposta padrão da banda é que não é uma letra para ser levada a sério. A ideia deles era apenas cantar versos divertidos, criar imagens engraçadas. A Lene já disse que a mulher tem o direito de fazer o que quiser: inclusive querer fingir que é uma boneca e ser algumas vezes objetificada.

Outra polêmica envolvendo “Barbie Girl” envolveu um processo da Mattel. A empresa dona da marca Barbie processou as duas gravadoras que lançaram a música, a MCA Records e a Universal, por violação de marca registrada. Mas a Mattel perdeu essa disputa judicial.

O mais bizarro nessa história é que em 2009 a Mattel recriou “Barbie Girl” para uma campanha de uma nova linha da boneca. A letra, claro, foi suavizada, sem nenhuma conotação sexual ou de objetificação.

Outras versões foram criadas tentando pegar carona no carrinho conversível rosa (e no filme). Tem remix do DJ holandês Tiësto e uma versão mais indie, cantada pela cantora canadense Alice Glass, que era da banda Crystal Castles.

Mas a versão recente de “Barbie Girl” mais bombada é cantada pelas rappers Nicki Minaj e Ice Spice . Ela toca no final do filme, quando sobem os créditos. As duas rimam por cima de trechos do refrão e do pré-refrão de “Barbie Girl” que ficam tocando bem baixinho em looping. E é uma música bem curtinha… são apenas um minuto e 49 segundos.

Kelly Key ‘belíssima’

No final da entrevista, o g1 mostrou para Lene e René o clipe de “Sou a Barbie Girl”, versão cantada por Kelly Key. Os dois aprovam, mas a cantora se empolga mais: “Ela é totalmente belíssima, primeira coisa. É uma boa, engraçada e linda versão do vídeo de ‘Barbie Girl’. Grande mérito dela.”

René diz que sempre fica lisonjeado quando ouve versões de músicas do Aqua: “Com certeza, dou os parabéns a ela.” “Esperamos que se a gente um dia voltar ao Brasil e talvez a gente possa se encontrar com ela… Daí a gente a leva para o palco para cantarmos juntos para todos os fãs brasileiros.”

Em português? Ele ri e responde: “Eu até que falo um pouco de espanhol, mas só isso.”

Após uma pausa, eles voltaram em 2016, mas com um membro fundador a menos: o guitarrista Claus Norreen. Entre 2011 e 2021, a banda só lançou uma música, “Rookie”. Em 25 anos de carreira, o Aqua gravou outros singles de sucesso como “Dr. Jones” e “My oh my”. Foram bem nas paradas, mas sem repetir o estouro de “Barbie Girl”.

“Desde 2008, a gente tem feito turnês pelo mundo”, conta René. “Tivemos sorte de ver o mundo inteiro de novo. A gente não foi ao Brasil, porque ainda não fomos convidados ainda. Mas assim que convidarem, a gente irá.”

Durante a entrevista, Lene foi interrompida duas vezes pelas filhas. Foi um pouco por conta delas que o Aqua resolveu se arriscar no TikTok.

Ela diz que as filhas de 15 e 16 anos vivem com o celular no rosto. “Elas ficam sem olhar para cima, sempre vendo o TikTok”, explica, imitando as duas.

“Eu dizia que eu nunca entraria no TikTok. Mas agora a banda está no TikTok e você tem que seguir o que está bombando. Mas eu não tenho uma conta pessoal, é só pela banda. Gastaria demais o meu tempo.”

Ela revela que a banda está preparando músicas novas. “Mas eu acho que não vamos mais lançar um álbum, vamos seguir lançando singles… É mais fácil hoje, com a fase em que o mercado está.”

Fonte: G1 Notícias

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